terça-feira, 25 de outubro de 2011

Prayers for Bobby (2009)

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Orações para Bobby de Russell Mulcahy telefilme baseado em factos verídicos com a interpretação principal a cargo de Sigourney Weaver que com este desempenho foi nomeada para o Globo de Ouro, para o SAG e para o Emmy na sua categoria.
Este filme conta-nos a história de Bobby Griffith (Ryan Kelley) um adolescente que assume a sua homossexualidade a uma família religiosa e ultra-conservadora, e encontra na figura da sua mãe Mary (Weaver) uma oposição sem limites. Para Mary esta nova condição do seu filho é abominável e ela não concebe um mundo onde ele será condenado ao inferno, criando assim um distanciamento do filho que o levará a um isolamento sofrido em silêncio e ao seu consequente suicídio.
Este pequeno grande drama familiar tem logo à partida a atenção de muitos cinéfilos, nos quais me incluo, pela participação de Sigourney Weaver que parece estar cada vez mais afastada das luzes da ribalta apesar de ainda estar bem activa (felizmente) na sua profissão. Confesso que só a ideia de a ter uma vez mais de volta ao grande, neste caso pequeno, ecrã, é já motivo de satisfação suficiente. Mais ainda quando depois de ver este filme percebo que estou perante um dos seus grandes desempenhos dos últimos tempos e que, caso tivesse sido feito para cinema e não para a televisão, até arriscaria dizer que estaria aqui a sua quarta (e tão desejada) nomeação a Oscar.
Não só a participação de Weaver é excelente como toda a história em si é digna de um comovente filme que não deixará ninguém indiferença à sua poderosa mensagem e alerta. Como já referi, este filme mostra-nos brevemente o excelente ambiente familiar que existia na casa da família Griffith. Crentes e respeitadores das leis de Deus, uma família unida e com elevada percepção do significado da palavra família, os Griffith deparam-se com a homossexualidade de um dos seus filhos. Esta descoberta leva-os, principalmente à sua conservadora e temente a Deus, mãe que tudo faz para tirar tão impuros pensamentos da cabeça do filho esquecendo-se, por sua vez, da própria dor que causava o mesmo o facto de saber que acima de tudo estava a magoar aqueles que mais amava.
A dar corpo, e digamos alma também, a Bobby temos um notável Ryan Kelley que a todos os momentos em que aparece no ecrã nos brinda com momentos de pura emoção, transmitindo apenas com o seu olhar toda a dor e peso do mundo. Se Weaver foi nomeada para todos os prémios possíveis com esta sua interpretação, é justo dizer que Kelley também o deveria ter sido. Os dois, não actuando sempre em conjunto, fazem a dupla perfeita num filme que em vários momentos emociona o coração dos mais duros.
O jovem que na vida real não suportou a sua dor e achou que a única solução que teria para lhe escapar era o suicídio, tendo assim posto termo à sua própria vida, deixou um legado bem maior do que aquele que alguma vez imaginaria ter. Não só deixou um importante testemunho que ainda hoje permanece importante para as mentalidades que resolvem pertencer a outros séculos sobre o facto de não importar quem se ama, o importante é sim um dia poder dizer que se amou alguém, como também deixou uma verdadeira prova ou teste, à real dimensão do amor que a sua própria família sentia por si. Amor esse que apesar de nunca ter desaparecido andou sim escondido durante algum tempo e só se revelou após a sua trágica morte.
De notar é ainda como a sociedade tão aberta e liberal como a norte-americana (pensamos nós) se mantinha (mantém) ainda tão conservadora ao ponto de se condenar o amor. De notar também como se espelha a palavra de Deus como sendo recriminadora quando ao mesmo tempo se apregoa que "Deus é amor" e que "todos são feitos à sua imagem".
Muitas, e todas elas fortes, são as mensagens que este muito interessante e muito bem representado filme tem e a mais importante, para mim, é o facto de nos transmitir uma ideia que se baseia simplesmente no preconceito de se poder "catalogar" alguém com base em "diz-me quem amas e dir-te-ei quem és" em vez de naquilo que de facto poderá ser importante, ou seja pensar em "diz-me como te amam e dir-te-ei quem és?". Above all things love should be the one and only thing that matters...
Forte é também o discurso final que Mary Griffith (Weaver) faz já bem perto do final deste telefilme. Uma frase em particular despertou-me o interesse e por isso a transcrevi no final deste comentário como sendo a mais significativa de todo este argumento. Antes de verbalizar um "amen" sobre uma ideia como sendo essa a verdadeira palavra de Deus... há que ter especial atenção às crianças que partilham o mesmo espaço. As crianças que em formação individual captam tudo aquilo que os seus progenitores dizem, fazem e aplicam como sendo certo pois são elas que, enquanto adultas, irão praticar, condenar, exercer o que ouviram e viram aplicar em crianças. Somos nós enquanto adultos que as estamos a ensinar e educar sobre o que está certo e errado na vida e elas, um dia mais tarde, irão reproduzir os ensinamentos que lhes damos.
Forte... aliás, muito forte é a mensagem que este filme tenta, e consegue, transmitir, e só é pena que este filme tenha passado quase praticamente não anunciado, pois não só é bom cinema (ok, é telefilme mas ainda assim a palavra-chave é BOM), como é bem interpretado, tem um bom argumento, é baseado numa história verídica e acima de tudo a sua mensagem não deve (não deverá) passar sem ser conhecida.
Sigourney Weaver no seu melhor... por favor volta com mais filmes destes que são imperdíveis.
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"Mary Griffith: Before you echo "amen" in your home and place of worship... Think. Think and remember a child is listening."
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8 / 10
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