sexta-feira, 30 de março de 2012

Pobeg (2005)

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Fuga de Yegor Konchalovsky despertou-me o interesse por já conhecer alguns trabalhos deste realizador e por prometer um intenso filme de acção muito ao estilo de uma perseguição infernal por esse imenso país que é a Rússia que se desenrola após uma verdadeira tragédia.
Evgeny (Yevgeny Mironov) é um cirurgião adorado por todos... pelos seus colegas que o consideram um génio, pelos seus pacientes que o adoram e pelo seu próprio patrão que o respeita. A vida parece correr-lhe bem até ao dia em que quando está prestes a assinar um novo contrato que lhe irá fazer render milhões, a sua mulher aparece morta e Evgeny no local do crime.
Depois de julgado e considerado culpado Evgeny é enviado para uma prisão de alta segurança mas, antes de lá chegar, surge a única oportunidade que ele terá de fugir e provar a sua inocência. Conseguirá finalmente descobrir quem esteve por detrás de tão hediondo crime?
Dos ainda poucos filmes russos que vi até à data, todos eles têm um factor comum entre si... uma certa frieza que juntamente com uma intensidade dramática bem acentuada tão bem caracterizam os espaços, as personagens e principalmente as suas histórias. São marcas características que nos fazem quase de imediato dizer "eis um filme russo".
Aqui, no entanto, esse factor que caracteriza estes filmes desaparece. E da mesma forma que desaparece este factor, desaparece também a magia que tinham. Tenta-se, com este filme, uma aproximação ao cinema de acção norte-americano que descaracteriza quase na totalidade o realismo que se pretende ter. As perseguições a alta velocidade que acabam por se tornar, de certa forma, ridículas e nas quais percebemos estarem claramente a ser encenadas (numa cidade de interior uma estrada sem movimento passa, convenientemente, a ter automóveis estrategicamente colocados para tornar a perseguição mais "credível"), a fuga pelo pântano que nos transporta de imediato para um Sem Perdão onde um Richard Gere e uma Kim Basinger lutam pela sua sobrevivência, ou as incansáveis fugas a pé que fazem a qualquer um de nós recordar O Fugitivo com Harrison Ford, são elementos que tornam este filme num qualquer modelo de filme de segunda categoria norte-americano e não russo como se pretendia.
A própria paródia feita por actores russos a eles próprios, onde o factor vodka equivale à sua caracterização enquanto alcoólatras e a consequente irresponsabilidade que daí provém, funcionam mais como elementos empobrecedores do filme do que propriamente dignificantes.
As interpretações acabam por completar o lote de elementos fracos que este filme apresenta. Por um lado temos Yevgeny Mironov que tenta a todo o custo apresentar um desempenho credível e que nos faça criar um qualquer tipo de empatia com aquele homem atormentado e injustamente perseguido pela autoridade. Por outro temos os demais actores que graças às suas personagens estereotipadas ridicularizam mais ainda a história para além de todas as falhas técnicas que já haviam sido detectadas por qualquer espectador mais inexperiente.
Em suma, temos aqui a vontade de um realizador em tornar uma aventura já vista em milhares de filmes americanos numa experiência russa que saiu mal dirigida e que na maior parte do tempo mais não serve do que parodiar uma história que poderia ser séria e interessante dada a sua temática de fundo.
Não que se trata de uma comédia, mas também não consegue atingir o nível dramático pretendido, acaba por permanecer num limbo desinteressante e já (re)visto em tantas outras produções com muito maior qualidade e interpretações melhor conseguidas. Vemos pela curiosidade, interessa-nos até certo ponto tornando-se, no entanto, enfadonho a meio gás.
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4 / 10
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