segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Babycall (2011)

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Babycall de Pål Sletaune foi um dos últimos filmes que vi no MOTELx este ano. Esta longa-metragem de produção norueguesa com a estrela sueca em ascenção Noomi Rapace, prometia ser um filme intenso para este último dia.
Anna (Rapace) é claramente uma mulher atormentada. Em processo de mudanças para um novo apartameno com o seu filho que fora vítima de maus-tratos por parte do pai de quem andam ambos fugidos, Anna tenta aos poucos adaptar-se a toda uma nova vida.
Neste moroso processo conhece Helge (Kristoffer Joner), funcionário de uma loja de electrodomésticos onde Anna compra um aparelho para poder ouvir o filho durante a noite. A clara simpatia que une Anna e Helge será posta à prova com o desenrolar dos acontecimentos que nos irá mostrar um lado escondido e perturbado de Anna para o qual não estávamos à espera.
Este intenso e perturbador thriller não só é adensado com a sua quase sufocante história como é abrilhantado pela presença da grande actriz que é Noomi Rapace. Não só acaba de sair de um dos filmes mais antecipados do ano como é o caso de Prometheus, como também é recente a sua participação na trilogia a que deu vida à igualmente intensa "Lisbeth Salander", Rapace está em pleno estado de graça. Aqui confirma-o. A vida sufocada e aprisionada que dá a esta sua "Anna", são a força de um filme que desconhecemos onde irá parar, independentemente de logo no seu início termos alguns indicadores do que poderá estar a acontecer. Desconcertante ao ponto de quase parecer paranóica, Rapace assusta-nos com os seus comportamentos em prol da descoberta do que se poderá estar a passar naquele tão luminoso mas sombrio bloco de apartamentos.
A violência, quer física quer psicológica ou ambas entre si ligadas, é quase um ponto certo num filme nórdico. A ausência de sentimentos em favor de uma rigidez quase militarista estão presentes em tantos e tantos argumentos e este, escrito pelas mãos do próprio realizador, não é excepção. Há um limite que separa acontecimentos estranhos e violentos que podem transformar a vida de uma criança, e através de si da sua mãe, que os leva a procurar e alcançar uma vida nova, daqueles que mesmo quando essa separação ocorre julgamos nós para melhor, nos continuam a dar um claro olhar sobre a forma como essa mesma violência se perpetua, neste caso, na criança e por parte de ambos os pais. Um sobre o qual temos conhecimento mas nunca vemos e por outro quando aquele que protege continua com a sua excessiva vigilância um mau-trato psicológico.
Quando o "babycall" que dá título a este filme entra em acção, não só nos dá uma imagem sobre aquilo que acontecia de certa forma na vida antiga de Anna como também aquilo que continua a acontecer a outros, mostrando que por muito que se fuja de um acontecimento traumático, este pode continuar a atormentar o "nosso" caminho quando não é devidamente resolvido, impossibilitanto assim a sua resolução.
Rapace consegue com esta sua interpretação conter todos estes elementos em diversos momentos. Por um lado é protectora e salvaguarda o bem-estar do seu filho ao ponto de não permitir que ninguém além dela o veja mas, quando esta atenção é excessiva, acaba por infligir uma violência psicológica sobre a criança... atormentada, confusa e preocupada com os acontecimentos que insistem em adensar o clima quase "paranormal" que a deixam a pensar se estará ela própria a enlouquecer ou se não será toda uma conspiração em seu torno. Possui uma intepretação densa e conflituosa tanto externa como internamente e que toma a pulso o filme do início até ao seu perturbador final.
Por sua vez Joner representa o lado mais sentimental e controlado deste filme. Menos denso e bem menos intenso pois aqui quase não temos lugar para o sentimento. Eles, a existirem, têm de ser contidos (e quase reprimidos) face à complicada situação que aquela família parece atravessar, e que culminará num (in)esperado final que pode não surpreender mas justifica muito daquilo a que estivemos a assistir durante a sua exibição.
Não esperem monstros pois não os vamos ver. Não esperem sangue pois tão pouco se justifica... Esperem frio como o próprio clima nórdico, intenso como um bom thriller deve ser e misterioso como se quer de uma história que antevemos ter um trágico e surpreendente final, Babycall foi uma agradável surpresa para o último dia deste MOTELx que continua a apostar em filmes interessantes e muitos deles fora de um circuito comercial não podendo assim alcançar todo o público que merecia.
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7 / 10
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