domingo, 2 de dezembro de 2012

Noite (2012)

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Noite de Flávio Pires foi uma das últimas curtas-metragens nacionais a ser exibida na secção competitiva de ontem do Córtex em Sintra, e mais uma agradável surpresa.
Esta curta abre com um segmento que nos transporta para um concerto e, mais concretamente, para um dos elementos da banda que vemos a tirar toda a caracterização que utiliza enquanto está no palco.
Depois de se arranjar e de rumar a casa onde pretende descansar, deparamos com uma realidade que vai bem mais além do que as aparências poderiam à partida mostrar, e encontramos um lar simples onde ele acaba também por estar encarregado de tratar e acompanhar a sua avó que se encontra doente, naquela que acaba por ser uma muito longa noite.
Este recente trabalho do realizador que já tinha apresentado o seu extraordinário "mockumentary" Artur, acaba por ser um trabalho bem superior e muito mais intimista. Ao contrário de Artur, aqui temos uma história que começa por impressionar pela movida de uma noite de concerto onde o objectivo é a total descontracção através de uma paixão que é a música, mas que acaba por mostrar um lado bem diferente daquele que imaginamos de um dos elementos daquela banda de música bem pesada.
Se inicialmente ao olharmos para o ambiente do espaço, para o próprio look do músico e para as "pinturas de guerra" que incorpora para o seu espectáculo, podemos pensar que se trata de alguém desliga da realidade que o rodeia. No entanto não poderíamos estar mais enganados. Esta pessoa que em palco assume uma postura mais forte e exuberante impressiona-nos quando, ao chegar a casa, se depara com uma realidade com muito menos brilho do que aquele que acabara de deixar. Um lar simples e modesto preenchido por uma realidade aparente dura e com os problemas de uma vida diária que ocupa muito mais a vida deste indivíduo que, no entanto, não se separa dela... Embraça-a e encarrega-se de cuidar do espaço e, principalmente, das pessoas que o povoam.
Se na altura em que assisti a Artur aqui escrevi que era um interessante e arrojado trabalho ainda muito pouco (mas aqui muito bem) explorado neste nosso panorama cinematográfico, aqui assumo sem qualquer pudor que este Noite consegue superá-lo e afirmar Flávio Pires como um nome a reter para o futuro. A sensibilidade em que as inicialmente duras imagens se transformam consegue surpreender qualquer um de nós e não querendo dizer sacrifício, tão vezes mal interpretado, mas sim disponibilidade com que aquele indivíduo (interpretado pelo próprio realizador), assume responsabilidades que se apresentam grandes demais, é avassaladora.
Nesta Noite que começa louca e termina calma mas não pacífica, só não se tranquiliza o espírito daquele que nela está sempre presente, mas que por isso revela um fundado espírito de responsabilidade e entrega num dos trabalhos mais inesperados do certame mas também um dos mais bem finalizados.
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9 / 10
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