segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

War Horse (2011)

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Cavalo de Guerra de Steven Spielberg é o mais recente filme do realizador norte-americano que o transporta novamente para um cenário de guerra, desta vez para as trincheiras do primeiro conflito mundial de 1914.
Ted Narracott (Peter Mullan) é um agricultor endividado que se compromete a comprar um cavalo que auxilie ao cultivo das suas terras mas que num acto de impulso opta por um puro-sangue. Este acto não só o coloca em risco de perder a sua quinta como também lhe tráz problemas com Rose (Emily Watson), a sua mulher que não antevê um bom desfecho para a família.
No entanto é quando o seu filho Albert (Jeremy Irvine) treina o cavalo a quem chama Joey, e o usa para preparar a terra para o cultivo, estabelecendo assim uma ligação quase inseparável com o mesmo, que a vida desta família parece esta finalmente no bom caminho. Mas estamos no eclodir da Primeira Guerra Mundial e uma época em que as tropas se deslocavam pelo continente Europeu de cavalo, e Joey é um animal muito cobiçado pelos militares que o vêem.
Sem Joey e com um futuro empenhado, Albert alista-se no exército e parte para uma inesperada e sangrenta aventura em França onde irá mais tarde reencontrar o seu cavalo. Regressarão os dois juntos a casa ou irá o destino preparar mais alguma armadilha que continuará a separá-los?
Como poucos, Steven Spielberg é não só recorrente ao tema "guerra" como principalmente as profundamente dramáticas histórias que giram à sua volta. Todas elas diferentes entre si contêm, no entanto, grandes dramas pessoais que marcaram épocas e gerações que ficaram devastadas e separadas pelos tortuosos anos em que decorreram. Tivemo-lo com A Lista de Schindler, mais tarde com O Resgate do Soldado Ryan e agora mais recentemente através deste Cavalo de Guerra. Se os dois primeiros títulos nos transportam para os cenários da Segunda Guerra Mundial, o primeiro para os guettos e campos de concentração e o segundo para os cenários do Dia D nas praias da Normandia e de seguida pelo interior de França, Cavalo de Guerra mostra-nos um cenário diferente onde, anos antes dos dois referidos títulos, o conflito fora travado nas trincheiras e pelos cenários virgens de uma França pacífica e pacificada onde, por largos momentos, esquecemos que a história ocorre num cenário de guerra para olharmos os verdejantes e luxuriantes campos que a brilhante fotografia de Janusz Kaminski, um já habitual e Oscarizado colaborador de Spielberg, insiste em realçar para nos seduzir desde o início até ao final deste filme.
Spielberg, como ninguém, consegue contar-nos uma história onde passo a passo nos seduz e conquista. Embrenhamo-nos pela história sempre a desejar ter dela um pouco mais, e compreender os dramas que numa época mais ou menos distantes afectaram os destinos de uma geração então perdida, e que perdeu as ilusões que depositavam num futuro que chegou depressa e violentamente demais. As emoções, contidas mas sentidas, eram tão frias ou ásperas como a própria realidade da época, e sentimo-las através dos olhares de desespero que este conjunto de actores sabe tão bem entregar frente à câmara. Quer seja pela guerra iminente, pelas agruras de uma época economicamente difícil onde todos os poucos bens que se possuíam eram colocados em risco ou mesmo pela inocência e juventude que desapareciam tornando todos em jovens adultos prontos para a vida, os olhares expressam todos os medos do mundo que aqui são apenas compensados pela constante sensação de que uma amizade, independentemente de quem são os seus dois intervenientes, tem de resultar. Só ela pode, no futuro seja ele qual fôr, pode garantir que existe algo que todos ali perderam. Algo que os fará pensar que o dia de amanhã pode ser possível: a esperança.
Esperança e emoções estas que ao longo de todos os minutos do filme são realçadas através de uma magnificamente interpretada banda-sonora a cargo de mais um dos habituais de Spielberg, o já Oscarizado John Williams, e de um conjunto de actores conhecidos mas não mediáticos que não se sobrepõem ao relatar da história entre os quais se destacam, além dos já referidos Mullan e Watson, Niels Arestrup com um fundamental e determinante desempenho na união entre "Albert" e "Joey", um contido Tom Hiddleston, ou David Kross numa interpretação semelhante em emotividade a Irvine mas so lado alemão do conflito.
À altura da sua estreia muitos se questionaram sobre a "qualidade" dramática deste filme, uma vez que o seu principal interveniente eram um animal que, treinado para "actuar" e se comportar de uma dada forma não mostrando assim qualquer tipo de emoções ou sensações que pudessem "quantificar" esse mesmo drama, ou não prestaram muita atenção aos segmentos em que o mesmo intervém junto das vidas de tantas pessoas ou, pior ainda, não viu o segmento em que "Joey" fica preso em armado farpado, momento esse que é possivelmente o mais dramático de todo o filme, ou mesmo o reencontro entre os dois intervenientes principais que Spielberg consegue transformar numa recriação cinematográfica perfeita daquilo que o comum dos mortais pode equacionar como "amizade".
Cavalo de Guerra pode não ser o mais emblemático, mediático ou memorável filme de Steven Spielberg mas, ao mesmo tempo, não é menos justo dizer que é mais um bem executado exemplar da obra deste realizador que tem sido mestre em "mexer" na nossa emotividade através das histórias que tem consistentemente apresentado e também uma homenagem à amizade como só ele sabe filmar.
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8 / 10
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