quinta-feira, 11 de julho de 2013

Brinca com o Fogo (2012)

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Brinca com o Fogo de Rui Esperança é uma curta-metragem de ficção cujo argumento, da autoria de Francisco Adão, é estranhamente actual ao colocar-nos perante as graves consequências que uma manifestação mais violenta pode trazer para aqueles que dela fazem parte.
A Mãe (Custódia Gallego) assiste preocupada às notícias sobre uma manifestação quando o César (Francisco Belard) seu filho, entra em casa transtornado e em silêncio. Quando o vê com sangue nas mãos e as notícias anunciam que os confrontos fizeram parte dessa mesma manifestação, a mãe vê-se confrontada com um terrível dilema: proteger o seu filho de qualquer potencial acusação e eliminar todas as provas do seu activismo político ou, por sua vez, denunciar a sua participação naquela manifestação.
Uma coisa está confirmada... A partir desse momento as suas consciências ficarão, de forma irrevogável, ligadas à escolha que irão tomar.
E é exactamente este o principal tópico desta curta-metragem... Até que ponto podemos viver com as nossas escolhas e opções, e de que forma são elas condicionadas pelas situações em que nos encontramos. Como podem ser tomadas decisões diferentes quando nos relacionamos com um estranho ou, numa situação idêntica em que nos envolvemos com uma escolha que afecta um familiar, tomamos decisões francamente diferentes. No fundo, tudo uma questão de escolha. A escolha, independentemente do quão correcta possa estar (ou não), mas como ela condiciona a partir desse instante toda uma restante vida que viverá para sempre na sua "sombra", tal como podemos confirmar naquele instante em que o telefone toca. Num qualquer outro dia seria encarado com a devida normalidade de quem possa esperar um amigo ou familiar do outro lado da linha mas, a partir daquele preciso instante, sempre que ele voltar a tocar ambos equacionam a hipótese de ser "o" telefonema que irá mudar as suas vidas.
Interessante química criada entre os dois actores, em que uma Custódia Gallego se assume como a verdadeira força maternal que tudo sacrificará pelo seu filho, e um Francisco Belard que de jovem e forte activista se encosta ao poder protector da sua mãe que por ele está disposta a esquecer qualquer "moral" que noutra situação a pudesse ensombrar.
Um último destaque positivo à direcção de fotografia de Sofia Lacerda que por momentos consegue transformar a luz de toda uma grande casa num espaço que aparenta ser cada vez mais pequeno e de onde os seus personagens não conseguem escapar, um pouco como a alusão à sua moral que está condicionada à escolha que acabam por fazer.
Um filme interessante e bem executado que apesar de mostrar o seu princípio e fim, deixa uma certa vontade de que ambas as personagens bem como a dinâmica da sua relação fossem ainda mais exploradas para que o espectador as pudesse conhecer melhor.
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7 / 10
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