domingo, 11 de agosto de 2013

Ismalia (2011)

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Ismalia de Xabier Cereceda-Hoz é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos entrega um olhar desiludido e cansado da sociedade que actualmente vivemos.
Ismalia (Alazne Etxeberría) é uma jovem mulher preparada para uma viagem sem destino ou data de regresso cujo único objectivo é esquecer todo o clima de instabilidade e insatisfação que a sua vida deita "normal" tende a apresentar.
É nesta viagem rumo ao desconhecido que Ismalia chega finalmente a um deserto onde, sem quaisquer confortos que a sua anterior vida lhe proporcionava, consegue finalmente libertar-se de desejos ou ambições que até então a mantinham aprisionada.
Cereceda-Hoz assina aqui um argumento que faz uma reflexão não só sobre os diversos problemas que afectam a sociedade contemporânea e que passam pelas inúmeras notícias de desgraça social anunciadas por "Benicio Santoro" (Unai Gareia), que tem aliás o discurso mais lúcido de toda a curta-metragem como um reflexo da própria sociedade, e desgraças essas que passam pela morte, miséria, recessão e epidemias como principalmente sobre a forma como elas conseguem criar os mais diversos problemas psicológicos e apatia por parte de uma extensa população que vive na sua sombra, ao mesmo tempo que tenta desesperadamente sobreviver no meio de um já variado conjunto de responsabilidades sociais que estão diariamente a seu encargo... a casa, a família, a conta da água ou da luz sendo disso exemplos práticos enquanto, por outro lado, os criminosos se passeiam na rua, os bancos vão falindo e os comerciantes guardam armas debaixo do balcão para se proteger daqueles que os roubam.
Assim, e como consequência, aqui "Ismalia", numa intencionalmente contida interpretação de Alazne Etxeberría), é o rosto de uma qualquer mulher que a dada altura resolve desvincular-se dessas mesmas responsabilidades que inerentemente se tornam naquelas que todos nós assumimos um dia. Num silêncio quase avassalador e cortante face a uma sociedade que a sufoca, o seu único ruído surge sob a forma de um grito quando finalmente percebe estar livre.
Toda esta desolação ganha um contorno ainda mais eficaz graças à direcção de fotografia de Gorka Erkizia e Xabier Cereceda-Hoz que transformam todo o ambiente e as cores de um deserto escasso de vida e de esperança num último reduto de uma qualquer potencial salvação que, na prática, poderá não chegar a tempo de resgatar todos.
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7 / 10
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