quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Le Père de mes Enfants (2009)

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O Pai das Minhas Filhas de Mia Hansen-Love é uma longa-metragem francesa presente na secção Un Certain Regard do Festival Internacional de Cinema de Cannes em 2009 dividida em duas dinâmicas sendo a primeira delas uma viagem pela vida de Grégoire (Louis-Do de Lencquesaing), um produtor cinematográfico que tenta manter viva a sua empresa Moon Films enquanto se debate com inúmeros problemas financeiros e é o centro de uma família composta pela sua mulher Silvia (Chiara Caselli) e as três filhas Clémence (Alice de Lencquesaing), Valentine (Alice Gautier) e Billie (Manelle Driss).
O segundo momento desta longa-metragem francesa é quando, após o seu trágico suicídio, a família de Grégoire debate-se com a união num momento de desespero e a manutenção da empresa intacta tal como era o seu desejo. Ao mesmo tempo Clémence faz as suas próprias descobertas numa idade de despertar que a obriga a uma idade adulta mais cedo do que esperava.
A obra de Mia Hansen-Love, da qual é também a sua argumentista, tem na sua história o seu ponto mais forte. Se acompanhamos inicialmente a história deste homem que todos aparentam adorar e que seduz os seus companheiros pela forma apaixonada como defende a arte cinematográfica e aqueles que querem contar histórias originais e apelativas e, ao mesmo tempo, mantém-se um marido e pai dedicado que encanta a sua família com a sua simples presença e se num segundo momento o espectador percebe o quão impactante foi o seu desaparecimento não só para família como também para todos aqueles que o rodeavam, a realidade é que Le Père de mes Enfants se perde com uma dinâmica contada por breves segmentos como que acompanhando pedaços da vida de um homem como se cada um deles não fosse uma directa consequência daquele tido anteriormente. Por outras palavras... como digerir esta história que é contada a dois tempos onde muitas das questões que poderiam definir o carácter e as motivações daquele homem ficam "em aberto" permitindo uma total ingerência do espectador na narrativa aquilo transmitida mas que, no entanto, nunca fecha em absoluto nenhum dos caminhos que resolveu abrir.
Se por um lado o primeiro segmento de Le Père de mes Enfants nos apresenta um homem que se debate com a sua sobrevivência profissional - a mesma que impõe, de certa forma, o seu próprio fim - e que todos adoram independentemente das suas falhas e comportamentos mais indiferenciados que o isolam e que dele fazem um solitário, não é menos verdade que o segundo momento desta história, interpretado maioritariamente por Chiaria Caselli, é aquele em que o espectador fica realmente a conhecer o homem por detrás do profissional apaixonado. Aqui assistimos àquilo que o "homem" foi realmente para os que o rodeavam... um homem apaixonado, um pai dedicado, um marido presente mas, ao mesmo tempo, com um passado que esconderia da maioria da sua família... um outro filho com o qual não mantivera grande relação e de quem o espectador nada fica a conhecer... e um profissional respeitado mas que era conhecido pelos seus sonhos maiores do que as realidades que conseguira concretizar. "Grégoire" é, para lá do homem que todos diziam gostar, alguém que graças ao seu comportamento especial tinha então mais que revelar do que os breves cinquenta minutos que dele ficámos a conhecer. É certo que as dívidas de acumulavam e que a sua sobrevivência profissional seria difícil mas... seria (terá sido) essa a motivação única da sua desistência da vida que tinha?!
É então o segundo momento - quase tão monótono quanto o primeiro - que percebemos a falta que faz a uma família que se sente agora destruída... a um negócio ao qual se dedicou de alma e coração... a um passado por resolver e o qual as suas filhas desconheciam - e que assim se mantém - e como uma delas em plena idade de descoberta e de crescimento se depara com a imagem de um pai que não era tudo aquilo que ela dele idealizara mas que, ainda assim, amava incondicionalmente e que agora perdera para sempre.
A motivação e inspiração que Hansen-Love deposita neste argumento falha enquanto concretização da história em si na medida em que o espectador depara-se não com um mas com dois segmentos de filme semi-independentes onde os seus vários momentos não parecem atingir nenhuma união entre si para lá de que "Grégoire" falhou perante a vida, perante a família e perante o sonho para o qual se endividara durante anos. A dinâmica entre as personagens é quase inexistente para lá dos breves - muito breves - momentos em que assistimos ao comportamento da família enquanto tal que, no entanto, são também eles interrompidos por uma vontade incansável de passar ao "outro momento". Sem uma linha condutora uniforme que unifique e conduza todas estas dinâmicas individuais a bom porto - afinal de que nos interessa saber que um actor que ele patrocinava é afinal um génio em potência se, na prática, não conhecemos a relação que ambos mantinham...ou que importa a relação da filha com um dos seus potenciais realizadores que nunca o chega a ser se depois não percebemos de que forma contribuiu para que esta relação fluísse para algo mais... No ar fica uma eterna questão... terá o espectador conhecido realmente quem foi "Grégoire" ou tal como a sua família ele mais não é do que um inesperado desconhecido que resolveu pôr um fim ao martírio que sentia?
Com um argumento fortíssimo mas escasso na sua concretização sendo absurdamente excessivo nas personagens secundárias que surgem a cada esquina, Le Père de mes Enfants nunca atinge aquele indispensável patamar de história sobre o "homem" que tudo poderia (e quis) ter mas que viveu abertamente escondido de todos aqueles que com ele conviveram, desistindo da vida pela vergonha do falhanço e pela percepção - própria e alheia - de que afinal não poderia mais ser o sonhador com que tanto havia sonhado.
Prometedor mas ao pecar pela excessiva dispersão de momentos, Le Père de mes Enfants deixa um desagradável mau-estar no espectador que poderá sentir pelo seu repentino desaparecimento (de "Grégoire") mas que, ao mesmo tempo, não o deixa marcado o suficiente para sentir que aquele homem poderia ser qualquer um de "nós".
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4 / 10
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