sábado, 5 de abril de 2014

A Cor dos Sonhos (2013)

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A Cor dos Sonhos de João Pina é a curta-metragem portuguesa de ficção que iniciou o terceiro dia da respectiva competição no FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Uma menina vive um momento particular na sua jovem vida quando graças às inúmeras dificuldades económicas que os seus pais vivem se vê privada da realização dos mais básicos sonhos de uma criança da sua idade.
Quando as despesas mensais parecem ser muitas e os rendimentos do casal poucos, até que ponto conseguirá aguentar esta família que tenta sobreviver num mundo que parece querer engoli-los rapidamente impossibilitando as suas vontades mais imediatas e a sua própria dignidade e onde até a mais pequena moeda perdida parece fazer a tal diferença para aguentar até ao dia seguinte?
João Pina que além de realizar A Cor dos Sonhos também é o autor do seu argumento e o intérprete principal da mesma, tem um esforço satisfatório com a sua execução estando, no entanto, longe de ser perfeito. Para lá de algumas falhas técnicas a nível da sua edição e da passagem entre os vários tempos e locais onde decorre a acção, existe ainda alguma fragilidade na edição de som que não permite ter o melhor rendimento dos espaços e da envolvência que se pretende ter de todo o ambiente vivido.
No entanto não deixa de ser verdade que A Cor dos Sonhos se insere numa interessante e recorrente tendência do actual cinema curto nacional onde se fazem as mais diversas reflexões sobre a crise económica e a austeridade que afectam dramaticamente tantas famílias nas mais variadas formas. Desde a total descrença na política nacional passando pelos constantes dramas laborais que sufocam lentamente todos aqueles que precisam de construir a sua vida, não esquecendo claro aqueles que acabam por sofrer num silêncio agonizante... as crianças que aqui em A Cor dos Sonhos tão bem retrata. Pequenos porquês que nunca são questionados mas que acabam por contribuir de forma decisiva para a diferenciação entre os outros que têm aquilo que "eu" não tenho são o principal enfoque que João Pina trás com esta sua curta-metragem e que até ao momento não tem sido abordado por outros cineastas nacionais.
Aqui o drama é vivido através dos olhos de uma criança que assiste às dificuldades económicas dos seus pais que tudo tentam por dar-lhe aquilo que eles próprios não tiveram mas que, ao mesmo tempo, percebe não poder certos luxos que noutros tempos poderiam ser considerados normais e dados como garantidos. É esta ausência de "posse" que a obriga a crescer mais depressa e perspectivar o mundo com um olhar mais duro e real que faz ignorar certas fragilidades que A Cor dos Sonhos possa deter a nível técnico que apesar de não abonarem positivamente para a dinâmica histórica da curta-metragem também não funcionam negativamente comprometendo o seu objectivo final.
Interessante a direcção de fotografia que consegue oscilar entre a cor e o preto & branco representativo dos momentos mais esperançosos e dos economicamente mais negros, bem como a interpretação de João Pina que, apesar de tímida consegue socorrer-se da mesma para ilustrar as inseguranças do Homem moderno que sente não ser capaz de sobreviver nesta sociedade tão agreste, bem como a música original de Luís Guerreiro e Pedro Pinhal que apesar da história poder ocorrer em qualquer lugar do mundo, consegue entregar-lhe alguma portugalidade que todos reconhecemos de imediato.
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6 / 10
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