segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Permiso de Ausencia (2014)

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Permiso de Ausencia de Row and Jack - dupla de realizadores composta por Josh Wroe e Jordan Jacques Aboutboul - é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos remete para uma estranha mas presente realidade.
Ele (Aaron Martín) corre desalmadamente pelas ruas de uma cidade. Ela (Daimy García) conversa com uma amiga sobre os seus encontros amorosos. Rapidamente se encontram mas Ele demonstra um estranho e por vezes violento comportamento.
Josh Wroe, Jordan Jacques Aboutboul e Daimy García escrevem um argumento que inicialmente prende a nossa atenção por - apesar de alguns momentos que percebemos ser violentos - se destacar uma estranha "coreografia" exibida por "Ele". Aquele homem corre pelas ruas como se algo o perseguisse. Algo que nunca vemos mas sentimos sempre presente, fazendo o espectador mais atento lembrar-se do genial The Entity, de Sidney J. Furie onde a protagonista se vê ameaçada por uma entidade sobrenatural que acompanha todos os movimentos do seu dia-a-dia. Mas, no entanto, percebemos que algo mais se esconde por detrás deste estranho comportamento.
Na prática Wroe, Aboutboul e García fazem uma questão que apesar de simples nada ter... aparentemente o é... O que aconteceria se de repente um indivíduo se visse ameaçado e perseguido por uma entidade que está automaticamente protegida pela lei e pelo sistema? O que aconteceria quando, num único e breve instante, esse mesmo indivíduo se vê desprovido da sua liberdade, da sua identificação, da sua segurança sem um motivo aparente para além do prazer - e do poder - daqueles que por simplesmente quererem e poderem fazer o que querem? Para lá de uma qualquer anarquia de "um", Permiso de Ausencia leva-nos a uma reflexão sobre o poder e o seu abuso de uma autoridade, seja ela qual fôr, sobre uma cidadão que não tem como se defender perante a mesma estando assim sujeito a uma vontade corrupta e corrompido que exerce a sua dominância pelo simples prazer de o poder fazer... sem motivos, sem desculpas e sem argumentos... simplesmente "porque sim"; "Mi encanta mi trabajo" escutamos... é este o único "argumento".
O poder de um sobre outro é aqui explorado na sua forma mais animal. O poder da violência, o poder pelo simples poder que nunca se esquece de deixar uma última ameaça ao retirar uma identificação como se dissesse "sei onde estás". Esse poder invisível mas presente que persegue e que se subverte em nome de um prazer desconhecido e que, tal como nos é fornecido desde o início, se baseia em factos reais - tantas histórias que já conhecemos - e que percebemos que ao cair nas malhas desse mesmo poder que nos encontramos perdidos, sózinhos e abandonados... à volta ninguém suspeita, ninguém se apercebe (ou quer) e ninguém conhece. São as acções desse mesmo poder que existem e marcam, que destroem e não perdoam. Que são reais!
Curiosos os pequenos grandes detalhes que passam ao longo desta curta-metragem nomeadamente a fuga em que a sombra d'"Ele" aparece reflectida na parede em fragmentos - aqueles que restam do Homem - ou também o facto do banco em que ele cai depois da agressão possuir um simbólico R.I.P. (Rest in Peace) gravado ou, mais revelador ainda, quando durante a agressão assistimos a dois polícias virarem costas seguindo na sua mota, fazendo de Permiso de Ausencia uma curta-metragem mordaz, bem presente e actual, extremamente intensa e quanto baste revoltante, desafiante e, ao mesmo tempo medonha pois espelha uma realidade que sabemos existir mas que todos queremos, de uma ou outra forma, ignorar.
Um destaque pela positiva ainda para a música original de F. Javier Garrido Haro e David Gold bem como para a caracterização de Laura Pérez López.
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"Voz: Mi encanta mi trabajo."
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8 / 10
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