sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Carosello (2013)

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Carosello de Jorge Quintela é uma curta-metragem portuguesa de ficção vencedora de dois prémios no Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira.
Um homem (Francisco Dias de Castro) olha para um carrossel enquanto divaga sobre a sua vida passada. Sobre a sua juventude e sobre aquilo que não alcançou.
Jorge Quintela tem em Carosello uma curta-metragem diferente do habitual mas que por esse mesmo aspecto se transforma num filme interessante e por demais reflexivo. O argumento de Pedro Bastos confere ao espectador uma experiência diferente na medida em que o coloca na pele do protagonista que em avançada idade pensa na sua vida, no que perdeu e como isso o transformou de um jovem determinado, responsável, atento e sempre alerta num homem envelhecido e desgastado pelo tempo e pela própria vida.
"Falhou na juventude, falhou na vida", escutamos a certa altura, como que se de um pensamento perdido que regressa para atormentar se tratasse, e que ao mesmo tempo garante a incerteza de um futuro que pouco ou nenhum significado terá. Foi essa perda no tempo que o transformou no homem que é hoje... amargo, sem objectivos e que despreza com as suas violentas discussões - assim nos revela - a família que tem ao seu lado... aquele que tentou construir e que possivelmente vê nele um ponto de discórdia que receiam.
A postura define o Homem e este o mundo. Com este princípio este homem de uma vida desgraçada e triste define o seu mundo como sendo perdido, esquecido, ignorado e não vivido. Um homem insatisfeito que vê os seus dias passarem - tal como a volta do carrossel - sempre ao mesmo ritmo e sem qualquer novidade aparente... às voltas constantes sem sair do mesmo espaço num ritmo monótono e perigosamente hipnótico. Um dia se dele acordar... o que terá à sua frente?
Ainda que Pedro Bastos tenha escrito esta história que apesar de francamente alternativa pela forma como é levada ao ecrã pelas mãos de Quintela, não é menos verdade que fica depois deste relato-confissão a crescente vontade no espectador de conhecer como será realmente a vida "real" deste homem longe daquele local onde se confessa e conhecermos aquilo que ele sente ter perdido ou não cumprido.
Hipnótico - Quintela capta como poucos um jogo de luzes que nos faz esquecer tudo o que se encontra à nossa volta - Carrosselo é uma pequena pérola que pela sua inconvencionalidade - felizmente o é - pode não conquistar um público mais alargado mas confere ao realizador a sua obra de referência.
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"Ele: Falhou a juventude... falhou a vida."
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7 / 10
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