domingo, 8 de fevereiro de 2015

Open Range (2003)

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Open Range - A Céu Aberto de Kevin Costner é uma longa-metragem norte-americana e a mais recente obra do actor e realizador depois de Dances with Wolves (1990) e The Postman (1997).
Boss (Robert Duvall), Charley (Costner), Mose (Abraham Benrubi) e Button (Diego Luna) vagueiam pelas vastas planícies onde deixam o seu gado a pastar. Ao chegarem perto de Harmonville, os quatro deparam-se com uma cidade sob o jugo da corrupção onde um xerife e um rico fazendeiro governam sob o medo e tirania.
Quando Boss e Charley são proibidos de ali permanecer e os lacaios do xerife matam a tiro Mose, ambos juram vingar-se e libertar a cidade desta tirania. Durante este processo Charley ainda conhece Sue (Annette Bening), uma mulher que, tal como ele, se sente solitária num espaço que parece não ser o seu.
Baseado no romance de Lauren Paine e com argumento de Craig Storper, Open Range é o regresso muito esperado de Kevin Costner à realização depois daquele que foi considerado o seu grande "desastre" The Postman (1997). Regresso este que volta às suas origens enquanto realizador de Dances with Wolves (1990) mas aqui numa história de amor e vingança onde os perigos das grandes planícies do Oeste não são nem uma guerra civil nem os nativo-americanos mas sim os próprios colonos - agora norte-americanos - que tomaram todos os novos territórios longe da civilização das grandes cidades controlando-os como pequenos reinos onde mandam com tirania e violência encomendada. Numa terra árida onde os pastos escasseiam e a água mais ainda, os mesmos valem mais do que ouro e o gado é uma forte fonte de subsistência que todos têm de manter e fazer proliferar.
É neste contexto que os quatro solitários cowboys chegam a uma dessas planícies - e cidades - tentando a sua sorte sob um anonimato que não irá resistir por muito tempo. Face a um ambiente onde reina a desonestidade e a lei dos mais fortes impera, Open Range tenta, a meio gás, insinuar uma história de amor - entre "Charley" e "Sue" - que parece condenada pelo mútuo silêncio como que numa espécie de espera por melhores dias. Numa mescla de western, drama romântica e história de corrupção e vingança, a terceira longa-metragem de Kevin Costner, ainda que simpática e bem construída, perde-se num sem fim de momentos que poderiam facilmente sub-dividir-se em histórias paralelas e independentes.
O espectador percebe todos estes momentos e assume-os como parte de uma história maior mas, no entanto, questiona-se porque motivo não foi dado mais ênfase a cada um deles, ou seja, porque motivo não é mais aprofundada a relação de uma década entre as personagens interpretadas por Duvall e Costner, porque motivo não foi explorado o passado deste último que entendemos estar marcado por uma vida turbulenta ou ainda... onde está realmente a verve maléfica dos "padrinhos" lá do sítio que parecem querer expulsar todos os forasteiros que aparecem pela cidade ou até porque não explorar mais a relação sentimental semi-oculta entre Costner e Bening? No fundo, se existe tanto material à espera de uma devida exploração (não chegariam as duas horas de duração de Open Range -, porque não foram estas aproveitadas da melhor forma?
Longe de ser um filme menos positivo - aliás, não considero nenhum dos filmes realizados por Costner como "menos bom" - Open Range parece ter permanecido pela superfície das histórias que pretende contar. Conhecemos as personagens bem como aquilo que as move - dinheiro, poder, vingança, amor, respeito (...) - mas, ao mesmo tempo, fica em falta algo que transforme esta longa-metragem num verdadeiro hino ao género western / farwest que Unforgiven (1992), de Clint Eastwood (por exemplo) conseguiu, conferindo ao género e às personagens a raíz das suas motivações desde o justiceiro de serviço a um vilão encarnado por Gene Hackman por quem o espectador consegue, aliás, criar uma especial empatia, algo que não acontece em Open Range a propósito de Michael Gambon ou James Russo.
Da vingança ao amor, fica também em falta aquele romance que Costner e Bening iniciam de forma tímida mas que se consegue entender como determinante para o futuro das suas personagens. Nunca se percebe o passado turbulento de "Charley" nem tão pouco o aparente voto de castidade de "Sue". Aquilo que o espectador conhece de facto é que ambos têm um passado que merecia ser do seu conhecimento mesmo que por breves palavras ou a indução/dedução entre personagem e espectador. Sabemos, ou pelo menos julgamos, qual será o seu futuro em Harmonville... Sabemos que a cidade será agora o seu porto de abrigo e que muito possivelmente ali irão estabelecer as raízes que até então estão em falta mas, ao mesmo tempo, parece ter ficado por contar tanto destas personagens que o espectador permanece num misto de curiosidade continuada e satisfação por saber que no final (o deles) tudo permanecerá como devia.
Ainda que não seja o grande exemplar do revivalismo do género - Unforgiven continua a sê-lo - Open Range é um muito simpático e interessante exemplar do género levando o espectador até às então conhecidas fronteiras de um país ainda em exploração e que como manda a tradição, contém todo um conjunto de personagens que aparentam ter optado por esta vida errante como forma de ocultarem todo um passado turbulento e do qual pretendem - ou esperam - fugir, e com um sempre em forma Robert Duvall como a força motora de uma história que sim... pedia mais e com a mesma energia.
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6 / 10
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