terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bande de Filles (2014)

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Bando de Raparigas de Céline Sciamma é uma longa-metragem francesa nomeada ao Prémio LUX do Parlamento Europeu e a quatro César na última edição dos prémios da Academia Francesa de Cinema cujo personagem principal é Marieme (Karidja Touré), uma jovem francesa que no seio de uma família opressora em que a lei do seu irmão mais velho impera não só dentro de casa como nos gangs de rua que o temem e que se une assim a três outras raparigas do bairro que lhe incutem não só uma necessidade de respeito próprio e no meio que tem de ser conquistado nem que seja pela força.
Perdida num mundo que parece não ser o seu, conseguirá Marieme, também conhecida por Vic, alcançar o tão ambicionado respeito e a liberdade que lhe permitirão decidir sobre a sua vida e o seu futuro?
Ao contrário do típico filme sobre um gang de um qualquer subúrbio, Bande de Filles apresenta-nos uma história que antevemos com muitas semelhanças a todos aqueles a que já assistimos mas aqui com uma pespectiva feminina e onde a sobrevivência não é necessariamente aquela que se tem de manter nas ruas - esta chega como uma consequência da inserção no gang propriamente dito - mas sim uma sobrevivência que se desespera alcançar logo dentro de casa onde o primeiro sentimento de insegurança chega.
"Marieme" é uma jovem que se tenta aplicar ao máximo nas suas tarefas e obrigações enquanto filha mais velha e estudante mas, ao mesmo tempo, existe todo um sentimento de que por muito que faça ou se esforce nunca será suficiente estando invariavelmente condenada a uma vida como todas as mulheres da sua família ou grupo de amigos, ou seja, atingir a maioridade, começar a trabalhar nas limpezas de um qualquer edifício de escritórios, casar e ter filhos perpetuando assim o longo ciclo de desesperança que a assola.
Nos instante iniciais deste filme a realizadora e argumentista Céline Sciamma brinda-nos com o que esperar deste meio... "Marieme" surge ao espectador como uma determinada jogadora de rugby, interventiva e com as suas amigas que - eventualmente como ela - esperam pelo seu momento de sorte. No entanto, se de início temos um entusiasmo típico de jovens adolescentes como toda uma vida pela frente, não é menos verdade que rapidamente ao entrarem no seu bloco de prédios que os seus sorrisos e conversas são abafados por uma dominante presença masculina para quem as mulheres do bairro apenas devem existir para os servir enquanto homens e sobre as quais exercem a sua excessiva força física.
Num mundo em que é o elemento mais fraco de toda uma cadeia de acontecimentos que a impedem de evoluir ou se destacar, "Marieme" encontra o conforto em "Lady" (Assa Sylla), a destemida líder de um gang de raparigas que vê nos seus olhos a vontade de vencer. Se inicialmente esta inserção e sentimento de pertença a fazem sentir como alguém, cedo percebe que provavelmente não será este o local - também ele repleto de violência e confrontação - onde irá conseguir fazer valer os seus sonhos e afirmar-se como a mulher que pretende ser. Entre fugas, incertezas e um amor que a poderia voltar a colocar como subserviente de outro homem - "Ismael" (Idrissa Diabaté) - "Marieme" tem apenas uma sólida opção... seguir em frente... fugir de um ambiente onde apenas pode prevalecer a violência e que invariavelmente a irão colocar sempre num limbo entre aquilo que tem e aquilo que espera poder ter - sem que este último seja possível de concretizar.
É com todas estas premissas e ideias que Bande de Filles avança como um - mais um - retrato sobre os emigrantes e seus filhos que povoam as grandes metrópoles francesas no seio de todo um conjunto de sonhos com portas fechadas e que esperam e desejam um dia poder ter o seu momento de sorte. Com ídolos internacionais que se aproximam do seu próprio mundo, estas jovens desejam apenas sobreviver num núcleo que as condena a um papel tido como "tradicional" junto da sua comunidade, não as aceitando como membros de uma sociedade do século XXI mas que as próprias sabem - e sentem - que as suas vidas valem mais do que aquilo a que estão "condenadas".
Sem nunca se tornar condescendente com as suas personagens, Bande de Filles mergulha no charco da indiferença mas termina com uma esperança de que sabe poder ser algo mais quando se liberta dos rótulos a que fora condenada, e Karidja Touré tem uma interpretação de mestre ao conseguir não só transmitir as inseguranças de uma jovem adolescente como também o forte instinto de sobrevivência de uma jovem mulher em início de vida.
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7 / 10
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