sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Z for Zachariah (2015)

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Os Últimos Dias na Terra de Craig Zobel é uma longa-metragem norte-americana centrada num mundo pós-apocalíptico no qual Ann (Margot Robbie) vive solitária algures perdida numa região interior.
Um dia, nos dos seus passeios pelo campo com o seu cão, Ann encontra John (Chiwetel Ejiofor) que mede os níveis de radioactividade da área e depois de o levar para sua casa, ambos desenvolvem uma relação próxima de cumplicidade e mútuo conhecimento. No entanto, é quando surge Caleb (Chris Pine), que a relação entre Ann e John é colocada em causa testando não só os seus limites individuais, aqueles da confiança e principalmente a forma como se encontram num mundo que parece não ter salvação ou sobrevivência.
Naquilo que resta de um mundo onde um qualquer cataclismo nuclear destruir a Humanidade como a conhecemos, o argumento de Nissar Modi centra a sua atenção não sobre essa mesma destruição mas sim sobre o que sobreviveu à mesma, ou seja, para lá de escombros dos grandes marcos históricos ou de sombras humanas que resistiram desfiguradas, Z for Zachariah revela-nos essa sobrevivência sim mas sobre a perspectiva de como continuar para o dia seguinte e com que crenças ou convicções.
Apenas com o conhecimento do essencial sobre estas três personagens, o espectador tece um mínimo de crenças sobre os mesmas para lá de que escondem mais do que aquilo que revelam não num necessário sentido de dupla intenção para com os demais mas sim de que a única forma que têm de sobreviver é resguardarem-se das potenciais ligações que criam com os demais, ou seja, o que tiveram realmente de comprometer para sobreviver?
Com a excepção de uma aparentemente ingénua "Ann" cujos comportamentos manifestam o resultado de uma jovem que sempre vivera afastada da cidade e com princípios morais e religiosos marcados por um pai também ele religioso, são "John" e "Caleb" que denotam um passado mais conturbado. O primeiro revela um homem de convicções marcadamente intelectuais, alguém preocupado em sobreviver através do conhecimento e que se contenta com as tarefas mundanas de uma vida recatada mas que controla. O segundo assume-se desde os instantes iniciais como alguém que de forma agressiva e dominante se faz penetrar nos espaços até então dominados por "John" usurpando a sua influência e lugar na casa. Em comum têm, no entanto, o ambiente de onde provêm - "John" de um bunker e "Caleb" de uma mina - e que os resguardou de toda a suposta degradação a que o planeta esteve sujeito - nunca a confirmamos ou vemos para lá de alguns edifícios destruídos - mas espaços esses em que estavam privados de sol, ar, ou de ver o céu e onde o medo e o pânico sobre o exterior se instalavam.
A relação que então fica estabelecida entre os dois homens transforma-se em dominador e dominado não sendo, no entanto, sob uma perspectiva física mas sim intelectual. "John" consegue criar um jogo em que se assume como dominado por "Caleb" mas, percebemos no final, foi quem esteve a dominar toda a dinâmica de grupo levando o novo visitante a trabalhar para saciar as suas - e de "Ann" - necessidades de sobrevivência e de perpetuação.
No final Z for Zachariah acaba por revelar uma invulgar mas interessante premissa na medida em que distanciando-se do tradicional filme pós-apocalíptico, obriga a meditar sobre o "depois", ou seja, o que esperar quando já nada existe para alcançar. Como regressar depois de se ter experimentado o que realmente se quer? Como manter a fé quando todas as referências daquilo que ela foi já se dissiparam e desapareceram?...
Com interpretações fiéis ao género e um cenário quase idílico que nos insere num mundo que já não é, não deixando de manter os elementos daquilo que foi em tempos a "civilização", Z for Zachariah mantém desde o primeiro instante uma tranquilidade invulgar nos filmes do género, muito graças à direcção de fotografia de Tim Orr que nos faz alhear daquilo que foi e concentrar nas cores de um entardecer pacífico.
Distante do filme apocalipse, Z for Zachariah mantém uma interessante estrutura do filme do género que não recorre ao lado visual mas sim ao da memória que recorda o que foi e o que se transformou.
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7 / 10
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