sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Sicko (2007)

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Sicko de Michael Moore é um documentário norte-americano onde a assustadora realidade dificilmente se poderia confundir com a ficção.
Depois de Bowling for Columbine (2002) e Farenheit 9/11 (2004) que lhe valeram o Oscar e a Palma de Ouro de Cannes respectivamente, o realizador Michael Moore entrega esta obra sobre o sistema de saúde norte-americano directamente dirigido por organizações e seguradoras cujo fim primeiro é a obtenção de lucro contrastando, dessa forma, com países como o Canadá, Reino Unido, França e até mesmo Cuba para os quais se dirigiu comparando-os com o seu país natal.
Num país como os Estados Unidos onde tudo se paga - saúde incluída - a preços astronómicos distanciando aqueles em maiores dificuldades económicas de cuidados médicos de qualidade, Moore avança em primeiro lugar para a sua fronteira a norte onde os mesmos são garantidos a toda a população sem distinção. Enquanto se encontra no país, o realizador entrevista diversas pessoas de familiares a estranhos onde evidencia que alguns dos seus compatriotas recorrem aos serviços de saúde no país de forma a poderem responder às suas necessidades médicas impossíveis de satisfazer nos Estados Unidos.
Da América do Norte à Europa, Michael Moore viaja para Londres onde entrevista médicos e pacientes sobre os serviços hospitalares prestados, seus custos, qualidade e salários dos profissionais, confirmando a distância abismal entre o país e os Estados Unidos bem como na forma de estar e viver a saúde e os objectivos traçados por médicos num lado e noutro do Atlântico. Finalmente em França, Moore encontra-se primeiro com médicos que prestam serviços domiciliários vinte e quatro horas sem custos adicionais para os pacientes bem como alguns habitantes naturais dos Estados Unidos que reflectem e comentam as diferenças sentidas entre as vidas nos dois países e aquilo que ali têm disponível e que não tinham antes no seu próprio país.
A última viagem de Moore é rumo a Cuba para onde se desloca com alguns funcionários de limpeza dos destroços do World Trade Center em 2001 então com graves problemas respiratórios confirmando que mesmo no país com um embargo imposto pelos Estados Unidos os seus cidadãos recebem cuidados médicos mais humanos do que na sua terra onde os mesmos estão direccionados para o lucro fácil e preferencialmente imediato.
Entre todas estas viagens e relatos sobre os factos por detrás daquilo que é uma indústria da saúde, Michael Moore consegue com o seu Sicko apresentar uma história que é quase um conto de horror no qual as vítimas não são meras personagens mas sim peões de um sistema feito para esquecer aqueles que se encontram mais fragilizados no sistema. Por outras palavras, imaginemos alguém com menos recursos e que se encontra impossibilitado de pagar um seguro de saúde... alguém que perdeu o trabalho e que se encontra portanto numa situação económica mais precária ou até mesmo alguém que após toda uma vida de trabalho não tem então o rendimento suficiente para cuidar da sua saúde... Sem seguro ou uma chamada "almofada" de segurança... limita-se a um estatuto de alguém que, em caso de necessidade, não pode recorrer ao devido tratamento do seu problema. Vários são os relatos de cidadãos em situações económicas precárias que não têm direito a cuidados médicos em condições limitando-se a ter de viver com problemas de saúde que não podem ser tratados definhando, muito lentamente, ao ponto de sucumbirem dos males que os atormentam. Tudo isto... no país que os viu nascer podendo, alguns, recorrer por entre esquemas mais ou menos legais, ao estrangeiro onde os mesmos são tratados por poucas dezenas de dólares.
Longe de uma realidade Europeia - e até mesmo Cubana -, os Estados Unidos vivem portanto um sistema onde o dinheiro compra realmente tudo... inclusive a saúde, onde o lucro de empresas reina sobre as necessidades e tratamentos médicos dos seus utentes desprezando e ignorando aqueles que nada têm. Numa espiral decadente de perda e necessidade, Sicko revela então que quando pouco tens e mais necessitas... menos acesso consegues garantir. Em Sicko o espectador sente-se não desamparado mas sim desarmado quando percebe que apenas e só o dinheiro pode comprar e garantir que os cuidados médicos existem. Quão longe estará portanto de um verdadeiro filme de terror ou até mesmo de um universo paralelo difícil de compreender?!
Diz-se vulgarmente que antes de mudar o mundo temos de conseguir mudar o nosso próprio quintal. Tendo isto em mente, Michael Moore cria mais um interessante e pertinente documentário sobre as falhas - defeitos - do seu próprio país questionando como poderão os Estados Unidos resolver tantos e tantos conflitos por esse mundo fora quando dentro das suas próprias fronteiras se pode conscientemente deixar tantos morrer por falta de cuidados médicos?! Mordaz como sempre... Michael Moore deixa-nos com esta grande e importante questão em mente.
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7 / 10
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