domingo, 14 de agosto de 2016

Domonic (2015)

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Domonic de Juan Cruz é uma curta-metragem espanhola de ficção que relata um dia na vida de Gastón (José Coronado), um homem extremamente organizado que usa os recursos energéticos para manter a sua vida e o seu espaço controlado. No entanto, aquilo que não espera é que esses recursos ganhem a sua própria consciência através de um rosto familiar.
O realizador e argumentista Juan Cruz recria uma história que tenta não tão subtilmente consciencializar o espectador de uma forma extrema - é um facto - sobre os usos (e abusos) excessivos de um consumo de energia. Considerando um planeta com um acentuado desgaste dos seus recursos e onde toda uma população vive a "crédito" dos mesmos, Domonic questiona o espectador sobre qual a sua necessidade pessoal dos mesmos face a uma vida que se tem cada vez mais rápida e exigente.
"Gastón" é um homem solitário, desligado do mundo - ou melhor, do planeta - e dos problemas que o mesmo enfrenta, contentando-se com uma vida plena de subtis excessos que o deixam pleno na sua existência ignorando que, lá fora, todo um planeta se ressente pelo exagero dos Homens. Num espaço que é a sua casa - de lar... nada tem... - que apenas divide com uma pequena cadela que o próprio praticamente ignora, "Gastón" possui um sistema informatizado que lhe confere todas as comodidades possíveis e imaginadas. É o rosto da sua falecida mãe (Terele Pávez) que o recebe todos os dias consciente dos seus excessos. Consciente dos seus abusos e principalmente da sua indiferença para todo um planeta que sofre vítima dos mesmos. "Gastón" precisa de uma lição... e ela como sua figura maternal incorporada num sistema informático é a única capaz de o chamar à razão... nem que seja pela força.
É a mensagem e a acção vingadora de uma mãe preocupada - agora não com ele mas sim com o planeta ao qual pertence "em espírito" - que o prende aos seus recursos como se de um refém se tratasse. Alguém incapaz de lidar com os próprios abusos que cometeu e que agora sofre de uma intensa ressaca que lhe poderá custar a sua própria vida. Extremo mas com uma nuance cómica-trágica que nos faz rir dos nossos próprios abusos ambientais e sociais, Domonic cria portanto a necessária consciencialização de Homem sobre o seu espaço, sobre o seu planeta e essencialmente sobre a necessidade - ou falta dela - de usufruir à exaustão de um bem que deveria ser comum... Será apenas na sua falta que o Homem se irá lembrar da sua importância e recordar aquilo que em tempos foi?!
Ainda que José Coronado entregue - uma vez mais - uma interpretação de um homem rude e de carácter forte, é a brilhante Terele Pávez que se destaca com mais uma composição de mulher vingadora e capaz de levar ao extremo as acções, reacções, desespero e pensamentos daqueles que caem nas suas "garras". Com uma presença que é quase exclusivamente composta pelas suas expressões e olhares "corrosivos", Pávez mostra o quão forte é... e que ninguém lhe escapa.
Ecologicamente mordaz... Domonic vai para além do simples filme curto... impondo-se de forma inteligente nas consciências de cada um de nós.
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7 / 10
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