terça-feira, 18 de julho de 2017

Como la Espuma (2017)

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Como la Espuma de Roberto Pérez Toledo é uma longa-metragem espanhola e a mais recente obra do realizador e argumentista de Seis Puntos Sobre Emma (2011), Al Final Todos Mueren (2013) e Los Amigos Raros (2014).
Milo (Carlo D'Ursi) vive com o trauma do acidente que o deixou paraplégico. Gus (Nacho San José), o seu namorado e melhor amigo resolve convidar Camila (Javier Ballesteros) para lhe organizar uma festa de aniversário. Aquilo que era suposto ser uma simples festa cedo se transforma numa orgia onde várias histórias pessoas se irão cruzar... incluindo a de Milo.
Não é segredo que por estas bandas se aprecia a obra de Roberto Pérez Toledo. A forma como cruza intensas histórias dramáticas com pequenas doses de humor reflectindo assim não só um passado vivido como uma esperança de um dia onde o mesmo não seja mais do que uma parte de um crescimento pessoal alcançado, transforma todas as suas curtas ou longas-metragens em pequenas doses de uma experiência que faz o próprio espectador pensar nas suas vivências e na forma como estas - como seria de esperar - também o transformarem na pessoa que hoje é. Desta forma, e à semelhança do que sucedera nas já referidas obras ou em tantas outras que o seu extenso curriculum detém, Como la Espuma reúne por detrás do humor e da comédia que pretende criar, sentidas reflexões sobre a vida, o amor, a perda, o abandono, a dor e a alegria que podem ser comuns a tantos de nós.
Como la Espuma é, portanto, a história de "Milo" (D'Ursi), um homem amargurado pela sua vida. Não tanto pelo acidente que o condenou à vida numa cadeira-de-rodas, mas sim pela memória de um amor vivido em plena confiança com "Mario" (Daniel Muriel), o homem que o abandonou mas que lhe deixou a marca de um amor sentido. É durante esta festa que tem a sua casa como pano de fundo que não só irá reencontrar esse seu grande amor como também é dada a conhecer ao espectador a história de "Elisa" (Sara Sálamo), uma jovem romântica que conhece "Jorge" (Diego Martínez) que poderá ser mais do que o tipo experimentado que aparenta ser. Conhecemos ainda "Marta" (María Cotiello) e "Jesús" (Pepe Ocio) para quem a relação parece estar adormecida e que se vêem envolvidos... ela com "Rodri" (Sergio Torrico) e "Álvaro" (Álex Villazán) e ele com "Isma" (Jonás Berami), e finalmente "Susana" (Elisa Matilla), uma mulher mais velha que procura alguém especial acabando por encontrar "Pato" (Adrián Exposito), não esquecendo "Rúben" (Miguel Diosdado) que irá desenvolver uma imediata atracção por "Camila".
Comum a todas estas personagens, o espectador encontra apenas - mas não só - um grande e decisivo elemento que é, aliás, até comentado por uma delas... a solidão. Todos buscam incansavelmente por aquele alguém em quem possam encaixar (uma piada fácil visto que estamos perante a concretização selvagem de uma orgia em plena luz do dia), e com quem possam partilhar aqueles momentos especiais que esperam da vida, mas ali, naquele exacto momento, perpetuam essa solidão com uma onda de calor, de folia e de sexo anónimo que os preenche durante alguns instantes de prazer que, quando terminados, dão lugar a uma nostalgia e tristeza que apenas eles podem reconhecer. Bom, pelo menos aqueles que estão ali na tentativa de "algo mais" do que umas horas de sexo.
Dos dramas pessoais ao humor, da construção de personagem ao conteúdo de uma boa história, Pérez Toledo consegue, uma vez mais, criar um conjunto de memoráveis personagens que podem, na realidade, ser iguais a tantos de nós nos seus pensamentos e objectivos, nas suas frustrações e tristezas diferenciando-se apenas pela sua idade que, à semelhança das suas demais obras, se mantêm nos seus "vintes". O espectador através do humor ou mesmo de uma qualquer expectativa que lhes reconhece, percebe de onde eles vêm, o que desejam e, no fundo, os porquês de se encontrarem numa festa/orgia com tantos desconhecidos que lhes podem - ou não - proporcionar o tal "bom momento" pelo qual anseiam. Desaparece a timidez, permanece o desejo, criam-se empatias e vontades de vidas em comum, esperam-se experiências e momentos bem passados que se possam voltar a suceder. Normalmente permanece a certeza de que tudo ficou por ali e o que por lá se passou... de lá não sai... ou sairá?!
Relações que são desfeitas e outras que podem ter dado o seu primeiro passo. Amores que terminam e outros que parecem condenados a nunca suceder dando lugar a uma redenção, a uma vingança pouco saboreada e finalmente a um novo começo. Aquilo que começou por tentar ser uma normal festa de aniversário acabou por se transformar numa orgia onde suor, desejo e muito voyeurismo - também do espectador -, termina com uma nova oportunidade para o anónimo (para os festivos) anfitrião e para aquele que poderá ter sido o amor da sua vida... então não compreendido. Mas Como la Espuma também fala dos novos amores... daqueles que parecem impossíveis mas que se confirmam como detentores de grande potencial e que acabam por fazer o espectador sorrir - brilhantes interpretações de Miguel Diosdado e de Javier Ballesteros - primeiro com a sua necessidade de afirmação e finalmente com a compreensão de que o amor não escolhe rostos, sexos ou idade... quanto se sente... simplesmente... sente-se.
Descomplexado, atrevido, humorístico, divertido, sensível, dramático e por vezes até sensual, Como la Espuma é uma obra ligeira, bem construída com uma irrepreensível direcção de actores e um argumento que fala de amor, de sexo e da vida sem os teorizar intelectualmente conferindo-lhes sim uma descontraída formalidade que a afirma como uma das longas-metragens deste Verão.
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7 / 10
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