quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Semente Exterminadora (2017)

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Semente Exterminadora de Pedro Neves Marques é uma curta-metragem portuguesa e uma das presentes na selecção oficial em competição da vigésima-terceira edição do Caminhos do Cinema Português a decorrer em Coimbra até ao próximo dia 3 de Dezembro.
Depois de um derrame numa plataforma petrolífera ter contaminado uma parte da costa brasileira, Capivara (Luiz Felipe Lucas) que aí trabalhava, é evacuado para o Rio de Janeiro onde as pessoas se mantêm inconscientes sobre o sucedido. Aí conhece Ywy (Zahy Guajajara) que o leva numa viagem até à região do Mato Grosso onde poderá procurar trabalho nas plantações e onde lhe fala sobre a sua relação com as mesmas e como entende o falar das plantas.
Capivara, incapaz de entender essa relação, a infertilidade da terra, das sementes e as modificações genéticas de que foram alvo, assume-se como um ser diferente de Ywy...
Semente Exterminadora é, desde os seus instantes iniciais, uma história sobre os tempos modernos. Tempos esses que vão desde a sobre-população que afecta os recursos naturais do planeta às já referidas alterações genéticas efectuadas sobre as sementes como forma de criar excedente alimentar que possa chegar a todos. No entanto, essas alterações não só vão manipulando a própria fertilidade dos terrenos cada vez mais desgastada pela excessiva plantação como também pelos produtos aí plantados que devido à necessidade de crescimento rápido são, a cada dia que passa, alterados para uma maior efectividade... a menor custo.
Juntando estes elementos de excesso populacional para tão parcos recursos à própria exploração do planeta e das suas matérias-primas, como é o caso aqui da exploração petrolífera, Semente Exterminadora estabelece uma directa relação com os vários e silenciados acidentes ecológicos que comprometem não só a qualidade dos terrenos como também das produções e, em última análise, das populações que futuramente irão inconscientemente alimentar-se daquilo que já foi "violado" pelo poder económico sedente de mais algum ganho... e menos qualidade.
"Capi" como representante dessa população necessitada de sustento - alimentar e financeiro - e "Ywy" como claro rosto de um planeta cada mais mais estéril e esgotado, dão corpo e alguma alma aos dois lados de uma história à qual apenas falta esse rosto "institucional" das corporações privadas de um lado humano que possa (utopicamente) reflectir sobre a sua acção num planeta que demonstra o seu "cansaço". Assim, privados que estão do mesmo, "Capi" e "Ywy" vagueiam pelos territórios que representam um com a necessidade de trabalho e a outra com a consciência que o que tem aguentado até este momento está prestes a ceder - o planeta primeiro... e depois a sociedade - tentando, quase de forma vã, criar um certo raciocínio do perigo e das alterações que primeiro foram tentadas para todos socorrer mas que, pela sua ineficácia, destroem a um ritmo cada vez mais acelerado o pouco que de bom resta a esta casa comum que é a Terra.
Com um argumento alegórico sobre a condição - ou estado de saúde - do planeta, das populações e até mesmo dos recursos que escasseiam e que (já) não são tão naturais quanto aparentam, Pedro Neves Marques exibiu com engenho e inteligência uma história necessária e pertinente que, com o seu ritmo natural enquanto história-relato de um povo (e de um planeta) que parece concentrado na sua extinção e não na sua salvação fazendo de Semente Exterminadora um título alegoria ao próprio estado "das coisas"... se por um lado produz com o intuito de alimentar... por outro é essa mesma produção que lentamente elimina a perpetuação - infertilizando, esterilizando e finalmente exterminando - de uma população que por necessidade consumiu... e por despeito explorou à exaustão um planeta que teima em renovar os seus mecanismos de defesa - antibióticos naturais - contra aquele que é o seu maior "cancro"... o Homem.
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