domingo, 4 de fevereiro de 2018

Gam Man da Song Si (2017)

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Gam Man da Song Si de Alan Lo é uma longa-metragem chinesa que junta uma comédia muito simplória e com grande recurso ao absurdo à temática zombie transformando-a numa experiência que tem tanto de exuberante como improvável e não... pela existência de mortos-vivos.
Lung (Michael Ning) e Chi-Yeung (Louis Cheung) são dois jovens adultos como uma vida despreocupada e sem responsabilidades. Numa família disfuncional, criado pela madrasta e com um pai que regressa depois de anos detido, Lung encontra-se num mundo ocupado por mortos-vivos criados a partir de um monstro de animação que o próprio segue.
O argumento de Nick Cheuk, Nero Ng e Chi Hoi Pang faz desta história de zombies um relato desastrado do género que tenta forçosamente quer ter a sua veia de comédia ao mesmo tempo que insere o drama familiar, o universo anime e ainda um humor pouco gracioso, o coming of age e ainda a dinâmica de super-heróis numa única história. Por outras palavras... ao iniciar esta dinâmica de apocalipse em formação, Gam Man da Song Si transforma-se numa história com tantas pontas soltas que o espectador se perde pelo meio ao tentar compreender a qual irá dedicar a sua atenção. Se por um lado esta longa-metragem tenta abordar as dinâmicas deste novo mundo industrializado onde os pequenos comércios tradicionais e as habitações tradicionais de uma população são ameaçadas, não será menos real o espectador compreender que toda esta amálgama de inuendos dispersa a dramatização bem como o universo zombie per si.
Ao mesmo tempo, Gam Man da Song Si recria ainda a dinâmica dos jovens deste novo milénio que se perdem numa indecisão e imprecisão de rumos pelos quais lançam a sua vida, fruto de uma falta de preparação para o futuro ou mesmo incoerência nas prioridades sendo, os próprios, o resultado de uma eterna juventude que os delírios da infância lhes permitem, potencializados ainda pelos lares desfeitos e famílias não convencionais de onde provêm e que, em toda a sua dimensão, os lançam numa incerteza e questão final... quem sou "eu" na realidade?!
Questões filosóficas à parte que, na realidade, por muito que se permitam existir nesta longa-metragem acabam por ser, em toda a medida, um mero detalhe da mesma, Gam Man da Song Si auto-fragiliza-se na medida em que nada parece estar - ou querer - exibir um qualquer tipo de coerência. Imaginemos (sem visualizar) aquilo que nos é apresentado... um apocalipse zombie proveniente de um monstro anime que assume a forma de um galináceo. Galináceo esse que lança bolas de sabão que zombificam as suas vítimas e que, ao mesmo tempo, lança ovos assassinos que "estoiram" - literalmente - as cabeças alheias. Como se isso não bastasse, este galináceo é ainda "encorpado" por um inesperado "habitante" que, já bem perto do final, expõe as fragilidades do próprio "Lung" e toda a sua dinâmica familiar e que o impede de crescer.
Esta dispersão de realidades, de géneros e de temáticas que Gam Man da Song Si pretende retratar poderiam ser interessantes em várias obras independentes que explorariam cada uma delas de forma harmoniosa. No entanto, é esta mesma dispersão que torna confuso - ou até coerente - não só o próprio argumento como o interesse do espectador que se deixa levar por um - se é que... - dos mesmos ignorando todas as demais componentes que aqui apenas servem para retirar a atenção do "bolo" como um todo. Se a esta vertente conseguirmos aliar todos os pequenos elementos que o tornam absurdo - considerando que a temática zombie é, por si só, algo já difícil de assumir para lá da fantasia - como, por exemplo, o corpo continuar a andar e saudar depois de uma cabeça "estoirada" ou o zombie consciente que se suicida - irónico! - depois de um último acto de amor que perpetua a sua dinâmica enquanto "ser humano" então, Gam Man da Song Si é uma obra que deixa o espectador quer indeciso quer inseguro sobre se há-de rir, amar ou detestar esta história.
Diferente, tenho as minhas reservas quanto ao original, mas assumidamente esquizofrénico, Gam Man da Song Si corre aquele risco de se transformar numa obra de culto (pela sua pobre coerência) ou num daqueles filmes que todos amam odiar por elevar ao máximo o absurdo da situação e recorrer a pequenos lugares comuns que dispersam e desvirtualizam o género que reúne um tão grande número de fãs por todo o mundo independentemente da sua cultura ou meio social. Ressalva seja feita, no entanto, aos breves apontamentos de animação ao longo do filme e, muito concretamente, ao segmento final que transformaria toda esta história mais positivamente coerente caso se se tratasse de uma longa-metragem de animação.
Seguramente olvidável, Gam Man da Song Si é uma obra que passa ao sabor do vento e não deixa grandes memórias sobre os seus enredos ou personagens. No reino da incredulidade... nem o mais absurdo chega para lhe conferir alguma coerência.
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2 / 10
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